Em primeiro lugar, os bondes da Carris são considerados bens históricos de grande valor por serem testemunho tecnológico e cultural de uma época, por constituírem parte da memória da cidade. Esta característica, por si só, já demonstra a necessidade de preservação patrimonial, garantida inclusive pela Constituição Federal.
De fato, as criações científicas, artísticas e tecnológicas, segundo o art.216-III da CF, "constituem patrimônio cultural brasileiro e são portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira".
Para tanto, a CF determina que "o Poder Público, com a colaboração da sociedade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação."
Quando o Poder Público, por alguma razão, deixa de cumprir o seu papel, resta à sociedade zelar pelo seu patrimônio e cobrar do ente público o dever, que a Lei impõe, de proteção dos bens culturais existentes. Preservar os bondes e a sua historia, portanto, é mais do que um dever do Poder Público e uma responsabilidade que pode e deve ser compartilhada com a sociedade.
Então, o que fazer com os bondes sobreviventes?
Colocá-los em um local protegido da degradação e tornar claro o seu valor como peças de museu - referenciais históricos de uma era. Esta é, sem duvida, a providência inicial que deve ser imediatamente adotada.
Faz se necessário lembrar que, em Porto Alegre, parte desse acervo foi impiedosamente destruído. Agora a cidade tem a oportunidade de se redimir desta conduta negligente e valorizar seus últimos bondes. Restam sete bondes na capital e mais três em Gravataí, em um zoológico desativado.
Ressalta-se que desde1999 o projeto da Linha Turística de Bondes Históricos e o Museu do Tranporte de Porto Alegre permanecem engavetados por falta de vontade política. A noticia de dois bondes para doação no estacionamento do Detran evidencia o fim do sonho de ver os bondes circulando novamente.
O fracasso na execução desse projeto é uma grande perda para Porto Alegre. Resta claro que a construção da Linha Histórica de Bondes e do Museu dos Transportes tende a impulsionar o turismo da região.
Santos, Campos de Jordão, Rio de Janeiro, Curitiba e outras cidades brasileiras têm conquistado resultados positivos de geração de receita com a valorização cultural e turística, atraindo visitantes de todas as partes do globo. Porto Alegre tem a oportunidade de seguir o mesmo caminho, mas escolheu permanecer inerte.
Ficam aqui dois questionamentos:
➡️1) A linha histórica de bondes e a construção do Museu dos Transportes pode impulsionar o turismo na capital dos gaúchos?
➡️2) Qual a importância desse projeto para a cidade?
👇Deixe aqui o seu comentário.
Angela Ponsi,
Arquiteta e urbanista, com especialização em Direito Urbano e Ambiental na FMP/RS, escritora, ilustradora e proprietária de um bonde em restauração na cidade de Porto Alegre.
Visite o site do projeto de restauração e preservação de um Bonde da Carris:
https://angelaponsi.wixsite.com/bondehistorico
🇧🇷 Cidade: Porto Alegre/RS/Brasil
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